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AFINAL, NO QUE VOCÊ CRÊ?!

AFINAL, NO QUE VOCÊ CRÊ?!

Eu, quando muito novo, era muito conectado com as atividades religiosas. Fiz o catecismo, primeira comunhão, a crisma. Momentos que demandaram preparação, aprendizado e muita reflexão. Muito do que ouvi e absorvi ali contribuiu para alguns dos valores e atitudes presentes hoje em mim.

Cresci em uma igreja que alimentava atitudes positivas, de amor ao próximo, de partilha para com os irmãos, onde muitos dos sermões presentes nas homilias dominicais eram justamente no sentido de alertar-nos quando nos desviávamos desse caminho.

Durante muitos anos (e felizmente até hoje) participei de missas com falas ligadas à campanhas da fraternidade, atentas para importantes situações existenciais de nós brasileiros.

A preocupação com a fome, com a injustiça, com a destruição da natureza, com as desigualdades e diversos temas fundamentais, merecem visibilidade e desenvolvimento de estratégias para que sejam diminuídas, de forma a construir um Brasil mais solidário, justo e fraterno.

Apesar de ser exatamente isso o que sempre entendi ser o papel de nós cristãos, uma polarização violenta e cruel se instala em parte do mundo, especialmente e de forma muito intensa no Brasil. Isso se reflete em um esvaziamento daqueles valores e atitudes em muitas das pessoas que, inclusive, estiveram lado a lado comigo partilhando-os.

Além disso, lideranças religiosas, num apego exclusivo às escrituras do Velho Testamento, alimentam uma postura que se afasta da nova aliança em Cristo. Lideranças e esses outros “fiéis”, inclusive, fazem coro a discursos de ódio que hostiliza outras lideranças da Igreja que seguem encarando o mundo e a vida com compaixão, humildade e benevolência.

Há um tempo a CNBB tem sido alvo dessa hostilidade na sua luta histórica por uma comunidade mais solidária e fraterna. Há um tempo atrás, o alvo foi o próprio Papa Francisco, pela sua importante atuação que reforça o papel da igreja no amor, na solidariedade, na fraternidade e na defesa da paz e da harmonia entre a humanidade e o planeta.

Há menos tempo o atacado foi Padre Júlio Lancellotti. Ele defende os direitos da população de rua e segmentos marginalizados da sociedade, trabalho que há muitos anos desenvolve, mas que recentemente ganhou repercussão. Isso incomodou poderosos e, além deles, alguns “fiéis” que aparentemente (se algum dia o tiveram) perderam aqueles valores e atitudes trazidos a mim através da participação na igreja.

Nesta semana um novo episódio ganhou grande proporção. Dom Orlando Brandes ao afirmar que “Para ser Pátria amada não pode ser pátria armada. Para ser Pátria amada (é preciso ser) uma república sem mentira e sem fake news. Pátria amada sem corrupção e pátria amada com fraternidade!”, foi hostilizado por políticos e “fiéis”, como se em suas palavras alguma inverdade tivesse. No seu papel de liderança religiosa, atento a uma necessidade de apontar que é preciso romper com a mentira e a violência, fez o que é seu papel fazer.

Não seria papel da igreja defender a verdade e uma vida sem violência? Não seria uma pátria sem mentiras e violência uma pátria mais próxima da solidariedade e da fraternidade?

E qual a razão de atitudes como a da CNBB, do Papa Francisco, do Padre Júlio Lancellotti, agora do Dom Orlando Brandes (e claro, de várias outras lideranças, que agem assim, mas que não possuem tanto alcance em suas falas), que seguem firmes na defesa dos valores e atitudes que são frutos da nova aliança em Cristo, causarem tanto incômodo em pessoas que se dizem cristãos?

Das pessoas que detém o poder secular, desde Cristo, já conhecemos os episódios de incômodo, mas daqueles que se dizem cristãos fica a reflexão: Afinal, no que você crê?.

 

 

Fonte da imagem: https://www.instagram.com/p/CVDrXH2Fl_V/

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